Sim tenho saudades tuas, não de ti, dos nossos momentos, dos dias em que me fazias sentir como uma princesa, dos dias em que me levavas a lua, dos dias em que ainda me amavas e tudo fazia sentido.
Sempre que me falam em amor, lembro-me de ti, porque és o meu grande amor, mas cada vez me desiludes mais.
Eu não queria gostar tanto de ti, não queria que isto fosse assim, apenas queria esquecer-te, apagar-te das minhas memórias, do meu coração.
Tens noção de como foram os meus dias depois de te teres ido embora? Não tens, porque para ti sempre foi tudo tão fácil, estavas longe, estavas ocupado, tinhas uma nova vida, mas eu não tinha nada, fiquei aqui sozinha, foste embora quando sabias que eu precisava de ti, deixaste-me aqui com a avalanche de problemas, limitavas-te a voltar ao fim de semana e achavas que estava tudo bem, não estava, nunca esteve, e tu nunca soubeste como eu realmente me senti.
Desiludiste-me, partiste-me o coração, fizeste-me perder um ano da minha vida, fizeste-me perder tanta coisa, mas mesmo assim eu não te consegui odiar, não consigo esquecer-te.
Julgas-te tão homem,tão senhor todo poderoso, e os outros julgam o mesmo de ti, mas na realidade és um cobarde, foges sempre quando tudo se complica, não consegues enfrentar os problemas, tens medo de falhar em frente aos outros, porque para os outros és um orgulho, mas ninguém sabe as asneiras que já fizeste, ninguém sabe os teus medos e como tudo em ti não passa de fachada.
Não guardo qualquer rancor, nem ódio, mas custa-me ver-te a destruir tudo e ficar calada.

Esperei todos os dias, a toda a hora, que alguém chegasse a casa e me dissesse que este pesadelo tinha acabado, que podíamos respirar de alivio, que podíamos tirar férias, descansar, deixar de passar todos os minutos preocupados ou com medo que acontecesse algo.
Cansei-me de esperar por um dia que não chega, por mais que queria que esse dia chegue não é suficiente, não tenho mais forças para esperar, o tempo escasseia e mais uma vez não posso fazer nada, só me resta esperar pelo fim.
Se algum dia me perguntassem se eu iria passar por uma situação destas, nunca me ocorria que ia passar, nunca acontecem a nós, sempre aos outros, mas a verdade é que isto está a acontecer, não dá para esquecer.
Sei que abdiquei do meu tempo, dos meus sonhos para cuidar de alguém por quem dou a vida, vou ter sempre tempo para lutar por mim.
Perder um ente querido é a maior dor que o ser humano pode suportar, mas vê-lo a partir multiplica essa dor, porque todos os dias um bocadinho morre, no dia seguinte as chances de vencer são menores e assim sucessivamente.
Neste momento estou a perder uma das pessoas mais importantes para mim, a pessoa que me viu dar o primeiros passos, a pessoa que cuidou de mim como uma filha, que cuidou de mim durante grande parte da minha vida, a pessoa que sempre foi o meu porto de abrigo e não é fácil lidar com tudo isto, lidar com o facto de um dia acordar e essa pessoa já não estar cá.
A dor aumenta, as forças diminuem, as chances de vencer são cada vez menores, mas eu nunca vou deixar de lutar por ti, porque sei que se fosse ao contrário farias o mesmo.
Prometo lutar até ao fim.

Um dia vamos nos aperceber que crescemos, guardamos os brinquedos, as birras e tudo aquilo que significa a infância, a idade dos porquês, a eterna felicidade, os miminhos das avós guardamos tudo isto no baú e fechamos-o a sete chaves e seguimos com a nossa a vida em frente.
Crescer é difícil, custa, crescer é deixar de depender de alguém a 100% é aceitar as consequências dos nossos atos, lidar com os problemas, enfrenta-los e resolve-los.
Mas crescer também é sinonimo de descobertas, a medida que crescemos descobrimos um novo mundo, o mundo que nos é totalmente desconhecido e que nós temos medo de o descobrir, porque tudo o que é novo nos causa estranheza, medo, tira-nos da nossa zona de conforto e empurra-nos para situações que nunca vivemos.
É inevitável não crescer, uns crescem mais cedo que os outros, ás vezes custa crescer, deixar as saias das mães, os miminhos das avós, tudo isso custa mas tem de ser, não podemos depender sempre dos outros, temos que nos tornar homens e mulheres.
Nesse novo mundo de descobertas, descobrimos o amor, o que nos vai causar as maiores desilusões e as maiores alegrias, mas no inicio o amor é a maior descoberta, aparecem os primeiros amores, os primeiros namorados, o meu primeiro beijo, as primeiras caricias e é tudo muito bonito, até aparecer alguém que nos vai dar o maior desgosto que nos vai partir o coração e esse grande desgosto nunca o vamos esquecer porque arrebata-nos de tal forma que não conseguimos esquecer, mas com o tempo a dor desaparecer, a ferida cicatriza,as lágrimas secam de vez  e abrimos o coração, tentamos amar mais uma vez, desta vez esperamos que não nos parta o coração, e é ai que aparecem as alegrias, quando amadas somos as pessoas mais felizes do mundo, nada nos incomoda, tudo é maravilhoso e perfeito, sentimos borboletas na barriga, vamos ao céu e andamos com a cabeça na lua vinte e quatro sob vinte e quatro horas, mas depois por uma razão inexplicável tudo acaba e voltam os dias negros.
A medida que vamos crescendo as desilusões já não nos magoam tanto, as palavras duras já não doem
 tanto, acordar de manhã já não é tão difícil, tudo isto porque nos vamos habituando a vida que levamos, a vida que vamos construindo, pedrinha a pedrinha.
Não é preciso ter medo de crescer, todos vamos crescer, passar pelos mesmos obstáculos, crescer é passar de bebé, a criança, a adolescente, a adulto.

O tempo passa tão depressa, já não somos as crianças que eramos, as crianças que gostavam um do outro, tu eras a criança que sempre disse que queria casar comigo e que queria ter filhos comigo e eu sempre disse que te odiava e  mandava-te embora, lembro-me dos verões, dos fins de semana, dos passeios, lembro-me principalmente do meu humor e de como tu lidavas com ele. Depois crescemos, e eu deixei de dizer que te odiava, o destino trocou-nos as voltas, tu mudaste,mudaste muito e eu deixei de te conhecer, afastei-me e voltei a tentar reaproximar-me de ti porque sabia que precisavas de ajuda, negaste toda a minha ajuda e eu desisti, renunciei a nossa amizade, o nosso amor, tudo o que nos pertencia.
E agora tu já és um homem, cresceste, estas num bom caminho para o sucesso e acredita que me orgulho muito de ti.
Hoje a saudade bateu forte, nunca tinha tido tantas saudades tuas,tinha esperanças de te encontrar na casa da tua avó, mas como nunca tenho sorte, tu não estavas lá, mas sentia a tua presença lá, os teus avós sempre me trataram como uma neta e para eles eu sou a melhor para o neto deles.
No teu quarto continua tudo igual, a cama de ferro branco, os quadros na parede, o urso em cima da cama, a nossa foto na mesa de cabeceira, a única diferença é que tu não estas lá, não estavas lá para mim, a nostalgia invadiu-me e o que mais queria naquele momento era ter-te ali a meu lado, tenho saudades de ouvir a tua voz, os teus doces sussurros, a tua pele macia a tocar na minha, tenho saudades da nossa infância, da nossa amizade.
Sabes que para mim vais ser sempre muito importante, és o único rapaz que me conhece tal como sou, genuinamente, vais sempre ser o meu rebelde.
Agora o meu companheiro de brincadeiras já não é mais um menino, e eu não sou mais uma menina rabugenta, somos crescidos, temos responsabilidades, sonhos para realizar e uma vida pela frente.

Ontem a noite, depois de tudo, depois de te ter visto, de te ter tocado,depois de me lembrar que tudo isto tinha sido no domingo, e que já era tempo de seguir em frente, escrevi uma mensagem, meti o nome no destinatário, mas não tive coragem de a enviar, mais uma vez a coragem faltou-me, tive medo da resposta ou tive medo que não respondesses, e isso podia significar tudo, as mulheres fazem dramas demasiado grandes, eu própria os faço, mas hoje arrependo-me de não ter enviado a mensagem.
Nessa mensagem, admitia que tinha saudades tuas, que nada me fazia sentir melhor que ficar nos braços, que um simples olhar teu me fazia estremecer por dentro, que não conseguia esquecer o passado e pedia para te afastares.
Quando estas longe tenho saudades, vontade de voltar para os teus braços, quando estas perto quero-te longe porque sei que me vais magoar, mas mesmo assim eu não tenho coragem de te mandar embora, farto-me facilmente de te ter por perto, porque na minha cabeça tu foste embora e quando voltas ficas por pouco tempo e eu habituei-me a ver a distancia, a ver-te longe, a saber de ti pelos outros, a falar contigo sobre coisas banais e na minha cabeça não faz sentido que agora estejas de novo aqui, não faz.
Nunca tivemos uma conversa séria sobre nós, sobre o que correu mal, talvez porque tenhamos medo de nos magoar, mas essa conversa faz falta, porque há rancor entre nós, há dor, há sofrimento e há muito por dizer, eu sei que tens muito por dizer mas não dizes porque no momento te faltam as palavras e eu não digo porque não sei como te dizer que tanto te quero comigo, como quero que vás embora, que me fazes falta constantemente que quando tudo corre mal és a primeira pessoa a quem eu penso pedir ajuda, mas algo me impede porque sei que depois me vou arrepender.
A cabeça e o coração quando tu és o assunto chocam, colidem um com o outro, o coração diz-me para falar contigo, para estar contigo e a cabeça diz-me para não fazer asneiras, para seguir em frente, e eu sei que o coração fala sempre mais alto, mas a cabeça tem sempre razão e eu tenho que começar a fazer o que ela me diz.
Talvez essa mensagem um dia seja enviada, talvez eu ganhe coragem para seguir em frente, para olhar para ti apenas como uma memória do passado, talvez um dia eu deixe de escrever para ti, talvez eu deixe de ser assim.